terça-feira, 2 de junho de 2009

História injustiçada


A verdade oculta e omitida pelos historiadores


Na maioria das vezes o relato histórico que ouvimos não reflete a realidade. O historiador, tanto pode estar a serviço de quem encomendou sua pesquisa com focos nos objetivos almejados, ou se informando com pessoas erradas. Tudo é possível...
Sou e serei sempre contra a criação de mitos. Talvez isso explique minha aversão por teologias. Prefixo a praticidade do palpável, no mais fiel estilo da materialidade.
Li um artigo relacionado ao historiador Valdir Calixto e seu projeto “Empate: Uma Consciência Ambiental na Contramão da Modernização”.
Não há como discutir um assunto com quem pesquisou. Mas na base do ouvir dizer e em gotas homeopáticas extraídas do conhecimento popular, podemos sim tecer comentários, deixando as contestações para outros historiadores.
Quando cheguei ao Acre em 1979, era fim do governo Geraldo Mesquita a estava assumindo Joaquim Macedo. Mesquita havia aberto a economia acreana. Uma campanha para atrair investidores do sul, no campo da pecuária, ainda estava em curso.
Se falava a época que um hectare de terras no Acre era oferecida a pecuaristas do sul e sudeste do País ao preço de um Cr$ 1,00 (Um Cruzeiro)
N bojo de interressados ainda existem como remanescentes, figuras de destaque na sociedade acreana e outras nem tão destacadas assim, embora com maior notoriedade por crimes e outras atrocidades cometidas, como a família Alves por exemplo, cuja patriarca Darly, se escondendo a Justiça de Muarama (PR), veio para o Acre. Aqui adquiriu centenas de hectares de terras e fundou a Fazenda Paraná.

Os historiadores não contam porque não querem, que esses fazendeiros adquiriram legalmente as terras sem saber que nelas habitavam seringueiros com mais de 30 anos de moradia.
Não contam que o único interesse desses fazendeiros era exatamente derrubar a selva para transformar em fazendas, plantar capim e criar gado. Afinal, foi para isso que vieram investir no Acre.

Não contam que a idéia do governo ao abrir a economia acreana para outro setor produtivo, que não fosse a seringa, madeira e castanha, tentava corrigir uma situação em que o cidadão tinha que acordar durante a madrugada e fazer plantão na fila de açougues, se tivesse interesse em comer carne.

Não contam que ao vender terras habitadas pelos “povos da floresta” o governo não deu alternativas para conter o êxodo rural que naturalmente iria acontecer.
Os empates foram portanto, um movimento de desespero no campo fisiológico pois sem as matas, seringueiros, índios e caçadores não teriam meios de sobrevivência.
Não haviam pois nenhum senso prático de preservação da floresta por ideologia de ambientalistas como se quer fazer acreditar.
Era uma luta inglória de um grupo de pessoas que estavam sendo expulsas de “suas terras” e não tinham para onde ir.
Chico Mendes (essa é minha modesta opinião) teve seus méritos, como por exemplo, liderança de mobilização em um causa comum. Não há nenhum registro que antes de ver sua estrada de seringa ameaçada por tratores e moto serras, tenha se envolvido em alguma causa de preservação ambiental.
É certo que algum dia, nosso Chico ainda será canonizado como protetor das florestas do mundo inteiro. Mas até que se prove ao contrário, defenderei meu ponto de vista como sendo uma mercadoria digna de reclamação dos direitos do consumidor.
Leiam ai o artigo sobre a pesquisa do professor Valdir Calixto

------------------------------------------------------------------------
A história dos Empates contra o capitalismo
Samuel Bryan
25-Mai-2009
Projeto de vídeo mostra como os Empates lutaram contra a máquina do capital
Professor Valdir Calixto comanda o projeto (Foto: Sérgio Vale/Secom) No início da década de 70, a tradicional atividade extrativista da borracha e da castanha, já em forte queda, estava fadada a desaparecer rápida e definitivamente pela ação desenfreada das motosserras. Assim, a floresta exuberante e rica parecia destinada a desaparecer, sendo trocada pelos campos com pastagem para gado. Até que seringueiros e extrativistas passaram a se reunir em movimentos contra as motosserras, chamados de Empates.
Para registrar esse importante momento da história acreana, o professor Valdir Calixto comanda o projeto “Empate: Uma Consciência Ambiental na Contramão da Modernização”, que objetiva a criação de um documentário contando a história e retratando como esse movimento lutou não só contra a destruição da floresta e o sustento do extrativista, mas também contra a máquina do capitalismo. Como disse o professor Calixto, “Por trás da motosserra está a mão do capital”.

O projeto apresentado ao Fundo Municipal de Cultura da Fundação Garibaldi Brasil foi selecionado e desde o final de 2008 encontra-se em desenvolvimento. Uma versão não finalizada do documentário, com 25 minutos, já foi apresentado no Sindicato de Xapuri, seguido de palestra e debate. O professor Calixto é o proponente do projeto, que está sendo tocado junto com o grupo de pesquisa Gaia.

Empates contra Capitalismo
O projeto defende a ideia de que os Empates não foram só protestos contra a derrubada da floresta pelas motosserras. Existe uma mão invisível por trás dessas máquinas de destruição que é o capitalismo. O “grito” do Empate está, no fundo, impedindo o ideal do capitalismo de destruir a floresta por objetivos simplesmente financeiros, mesmo que os seringueiros e extrativistas não tivessem consciência disso nos primeiros empates, se tornando algo muito maior em seguida, com o apoio do sindicato e a figura de Chico Mendes.

Seringueiros e extrativistas se organizaram inicialmente sem a ajuda do sindicato, quando eles como trabalhadores rurais tiveram a noção do que as motosserras estavam para fazer com o ambiente em que viviam e tiravam o sustento. Após os primeiros Empates e suas repercussões, é que o movimento começa a crescer e se articular ainda mais, gerando conflitos, violência e assassinatos da parte dos jagunços que queriam tirar os seringueiros de suas terras.

Para se ter uma ideia, em seus depoimentos para o documentário, seringueiros e extrativistas afirmam que o primeiro empate não objetivava a violência. Ainda assim, todos foram preparados para qualquer forma de agressão que pudessem sofrer. “A necessidade de sobreviver dessas pessoas estava contra a modernidade e o capitalismo”, afirma o professor Valdir Calixto.

A proposta é que até o final do ano o documentário esteja finalizado. Atualmente está sendo feita a apuração de mais de 5 horas de material em vídeo. Quando pronto, o documentário será apresentado à população em sessões especiais e para os alunos do Ensino Fundamental e Médio como uma forma de mostrar-lhes a história e a luta dos Empates no Acre. Também se estuda a possibilidade de apresentar o vídeo para a comunidade europeia, levando-o para Portugal.

Retratando a História
O professor Valdir Calixto está no Acre desde 1980, mas se considera um legítimo acreano. Em 1984, após ingressar como professor na Universidade Federal do Acre (Ufac), lançou o livro “Acre – Uma História em Construção”, que também contou com a parceria de Josué Fernandes e José Dourado. Foi o primeiro livro didático acreano, lançado originalmente para o 2º grau, mas sendo utilizado também na Universidade.

Em 2003 lançou o livro “Plácido de Castro e a Construção da Ordem no Aquiri”, que foi sua tese de Doutorado em História Social na Universidade de São Paulo (USP). Calixto também planeja lançar a história dos Empates em livro, além da realização de outros projetos junto ao grupo Gaia.

Nenhum comentário: