Onde o cão perdeu as botas
Recém classificado como um dos municípios brasileiros com pior índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Pais, ainda está no saldo. Nem devia ser município.
Há dois anos estive no Município do Jordão. Portanto sou testemunha ocular dos índices de pobreza abaixo da média que abriga uma população formada na maioria de índios. Na ocasião o prefeito José Hilário era anfitrião de uma equipe do Projeto Rondon, aquartelada na única hospedaria que havia na cidade. Não havia mais nenhuma acomodação para pernoites a qualquer visitante, ilustre ou não.
Eu, o repórter Mariano Maciel e o cinegrafista “Samuca” pernoitamos no gabinete do representante do Governo do Estado, em colchões e cobertores cedidos para prefeitura.
Na manhã seguinte enquanto aguarda-vamos o “céu abrir” e termos condições de decolarmos na pequena aeronave. Ficamos no mercadinho publico onde testemunhamos o transporte em um carro improvisado com pneus de bicicletas, de duas bandas de um boi. Perguntamos para onde ia aquela carga e formos informados que era para o “açougue” da cidade e surpresos descobrimos que aquele “carrinho” era também o coletor de lixo oficial da prefeitura. Em todo o município haviam nove veículos. Dois carros e sete motocicletas. Nunca vimos tanta pobreza antes.
Na administração anterior, o prefeito Francisco Turiano havia cometido suicídio, após constatar que seus secretários haviam dado um rombo sem fim nas minguadas contas do município e ele seria responsabilizado.
A inadimplência levou a União suspender qualquer tipo de repasses federais. O Estado é que repassa recursos institucionais, suficientes apenas para pagamento das contas públicas sem nenhuma sobra para investimento.
Na área de saúde a situação era ainda mais critica. Sem médicos credenciados ao SUS (nenhum quis ir trabalhar no Jordão) não havia expedição de receitas, encaminhamento para internações e nem exames laboratoriais. O único médico da cidade era um boliviano sem registro no Conselho Regional de Medicina (CRM) e ameaçado de expulsão.
Surgem, finalmente, alguns políticos defendendo o registro dos profissionais formados em Cuba para minorar dilemas como esse que vive o Jordão e outros 454 municípios brasileiros.
Não se pode apenas culpar o governo por não pagar bons salários para um médico ir morar no Jordão. Não há quem queira trabalhar no Jordão por dinheiro algum. Lá, é onde o cão perdeu as botas e o vento faz a curva. Onde nossos irmãos brasileiros (índios e brancos) vivem em completa exclusão social.
O CRM sem noção e conhecimento de acusa tenta tirar o único benefício que a população tem, em termos de atendimento médico. Seria bom reunirem a população em praça pública e lhes dá essa noticia. Apresentem uma solução para dotar Jordão de um médico oficial ou parem de querer aparecer..
terça-feira, 25 de novembro de 2008
Município do Jordão
Onde o vento faz a curva...
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