segunda-feira, 1 de novembro de 2021

Especialista em segurança defende investigação de corregedorias da PM e PRF

A operação das polícias Militar de Minas Gerais (PMMG) e Rodoviária Federal (PRF) que resultou na morte de 26 acusados de envolvimento no 'novo cangaço', em Varginha, no Sul de Minas Gerais, na madrugada deste domingo (31/10), abortou, de acordo com o comando da megaoperação, ataque que estava sendo preparado a um centro de distribuição de valores do Banco do Brasil no município mineiro. A expressão 'novo cangaço' tem designado ataques de quadrilhas que se tornaram frequentes desde o fim dos anos 90, estruturados para invadir pequenas cidades e assaltar bancos. O grupo de criminosos foi surpreendido em duas chácaras, de acordo com a polícia, onde houve reação e foi recolhido armamento de guerra, incluse armas que são de uso exclusivo das Forças Armadas.

A ação dos policiais ocorreu em dois sítios localizados em Varginha. Oficialmente, a PM informa que houve dois confrontos. Na primeira chácara, 18 suspeitos foram mortos e na segunda mais oito pessoas morreram. Nenhum policial se feriu. A corporação informou que eles participariam de ataques a agências bancárias ontem ou hoje na Região Sul do estado. Com eles, a polícia encontrou e apreendeu um arsenal de fuzis, explosivos, pistolas, carregadores, mais de 5 mil balas e outros materiais, como roupas, rádios, coletes e canetas laser.

O especialsta em segurança pública e professor Luis Flávio Sapori, avaliou que a operação da PM e da PRF foi “realizada, apesar da alta letalidade”. Para ele, o trabalho das autoridades se baseou em informações coletadas por meio dos seus setores de inteligência. “Uma ação derivada de um trabalho investigativo prévio, o que é fundamental, principalmente, para lidar com as quadrilhas do novo cangaço”, afirmou.

“São grupos que não se rendem facilmente. Quando são acuados, usam do armamento de que dispõem para confrontar a polícia. São grupos criminosos pautados por uma grande afronta ao poder público. Sempre foram assim. Render-se pacificamente não é o padrão deles”, diz Luis Flávio Sapori. Apesar disso, o professor ressalta a necessidade de investigação por parte das corregedorias da PM e da PRF para assegurar que houve um confronto nos sítios, em vez de uma execução sumária.

A delegada regional de Varginha, Renata Fernanda Gonçalves de Rezende, informou que os dados dos envolvidos ainda estão sendo apurados, mas confirmou que o grupo teria recebido apoio de pessoas de outros estados. “Inclusive de Brasília”, observou.

A porta-voz da PM, capitã Layla, afirmou que a ação conjunta das corporações é considerada a maior contra o chamado novo cangaço na história do país. “Muitos infratores fariam um roubo a banco hoje (ontem) ou amanhã (hoje) e foram surpreendidos pelo nosso serviço de inteligência integrado com a Polícia Rodoviária Federal. Foi uma ação conjunta entre PRF e PM, que resultou na apreensão de um forte e grande armamento, um grande número de armas de fogo, além de explosivos, coletes balísticos utilizados pelos infratores”, destacou.

O governador de Minas Gerais, Romeu Zema (Novo), se pronunciou na tarde de ontem sobre a operação. “Em Minas, a criminalidade não tem vez”, escreveu em sua conta no Twitter. “As Forças de Segurança do Estado trabalham com inteligência e integração para impedir ações criminosas”, acrescentou.

Zema explicou que a PMMG, ao lado da PRF, “antecipou bandidos do chamado ‘novo cangaço’, em uma das maiores operações da história no combate a esse tipo de crime.” A Polícia Militar também classificou o caso como “histórico”. “Entraram em confronto com nossos policiais e tiveram a resposta devida", disse a capitã Layla Brunela, porta-voz da corporação.

Planejada Durante coletiva de imprensa sobre a operação, as autoridades revelaram que o alvo da quadrilha seria o Setor de Retaguarda e Tesouraria do Banco do Brasil (Seret) ou alguma empresa de transporte de valores. "O trabalho começou após denúncias anônimas. É uma operação que foi planejada e muito bem estruturada. O grande êxito da operação foi esse: nenhum cidadão teve alguma situação de risco. A ideia era fazer a prisão, mas quando notaram a presença dos policiais, revidaram”, explicou o chefe da comunicação da PRF, inspetor Aristides Júnior.

“A quadrilha possuía um verdadeiro arsenal de guerra, sendo apreendidos fuzis, metralhadoras ponto 50, explosivos e coletes à prova de balas, além de vários veículos roubados. Foram recolhidos,  ainda, diversos "miguelitos" (objetos perfurantes feitos com pregos retorcidos usados para furar os pneus).

Além da repercussão em Varginha, a operação virou um dos assuntos mais comentados das redes sociais ontem. A Comissão de Direitos Humanos da seção da Ordem dos Advogados do Brasil em Minas Gerais (OAB-MG), informou que acompanhará as investigações. A Polícia Civil instaurou inquérito policial para apurar os fatos, e o processo será analisado pela Comarca de Varginha.

treinamento Os crimes do chamado "novo cangaço" estão em queda expressiva em Minas Gerais. Segundo o coronel Fernando Marcos dos Reis, comandante da 9ª Região de Polícia Militar, que integra o Grupo de Inteligência da PMMG e de combate a esse tipo de crime, o estado registrou apenas três casos da modalidade em 2021. Já durante o período crítico, entre 2011 e 2014, foram 386 ocorrências.

"Os crimes do novo cangaço já preocupam há mais de uma década", afirma o coronel. A utilização de explosivos teve início em 2013, pois segundo o coronel, foi quando se registraram os primeiros casos, e a Polícia Militar adotou um treinamento específico para combater esse tipo de crime.

Para o especialista em segurança pública Luis Flávio Sapori, da PUC, esse tipo de crime está em queda pelo trabalho de inteligência e integração entre as forças de segurança. “Essas quadrilhas não são grupos da estrutura do PCC (a organização criminosa Primeiro Comando da Capital). A troca de informação entre os estados é fundamental. A PM e a Polícia Civil trabalham muito operacionalmente para lidar com esses criminosos. Muita gente foi presa”, avalia.

* Participaram, ainda, da cobertura  Natasha Werneck, Márcia Maria Cruz, Ana Mendonça e TV Alterosa Sul de Minas

REINCIDENTES

As quadrilhas que dão gás à expressão 'novo cangaço' já vêm atuando em Minas Gerais, São Paulo e Santa Catarina

Araçatuba (SP)

» Na madrugada de 30 de agosto último, ao menos 20 criminosos fortemente armados invadiram a cidade do interior paulista, incendiaram veículos, explodiram duas agências bancárias, e atacaram um terceiro posto de atendimento. Eles espalharam 100 quilos de explosivos pelas ruas. O ataque terminou com três pessoas mortas.

Criciúma (SC)

» Em 1º de dezembro de 2020, as atenções do país se voltaram ao município  do Sul de Santa Catarina, que viveu horas de terror após o assalto a uma agência bancária. Foi o maior roubo já registrado na história daquele estado. Pelo menos 30 criminosos armados e distribuídos em 10 veículos lançaram um caminhão em frente a um Batalhão da Polícia Militar e atearam fogo. Houve troca de tiros e um policial foi atingido.

Uberaba (MG) 

» Houve ataques à agências bancárias de Uberaba, no Triângulo mineiro, em 27 de junho de 2019. O grupo atacou por volta das 3h30, utilizando caminhões como barricadas e o fogo cerrado de fuzis de guerra. A resposta policial, no entanto, foi praticamente imediata e não restou outra opção aos bandidos que não a fuga com a polícia em seu encalço. Três pessoas ficaram feridas, sendo duas levemente e uma mulher de 21 anos ficou em estado gravíssimo.

Santa Margarida (MG)

» Em 10 de julho de 2017, um policial militar e um vigilante do Banco do Brasil morreram em assalto a duas agências bancárias em Santa Margarida, na Zona da Mata. A ação dos bandidos foi flagrada por câmeras de segurança e também por vídeos dos próprios moradores, chocando a população oela crueldade que os ladrões empregaram.

Itamonte (MG)

» Há 7 anos, nove bandidos foram mortos na cidade do Sul de Minas Gerais. Cerca de 20 suspeitos fortemente armados invadiram a cidade em 2014  e explodiram caixas eletrônicos. (Reproduzido da revista eletrônica MSN.Com)


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