segunda-feira, 19 de maio de 2008

Linotype no Museu


Meu encontro com a velha cafetina
Sábado, 16 de maio, foi um dia memorável. Marcou meu reencontro com uma velha cafetina, me apresentada pela primeira em 1978. Aposentada, hoje ela vive em museus. Nosso encontro foi na Oficina das Artes no Museu João Donato, no Distrito industrial em Rio Branco.
Nosso primeiro encontro se deu no inicio de 1978. E lá se foram 30 anos. Ela era a “estrela” no mundo gráfico e vendida como revolução gráfica que marcaria a setor de composição gráfica, entre o moderno e o obsoleto.
Eu, um pós-adolecente, que se iniciativa no mundo gráfico e um tanto quanto orgulhoso em dominar com maestria, as caixa tipográficas- modelo americano - que me permitia, com relativa agilidade, concluir minhas pautas diárias nas oficinas do Jornal O GUAPORÉ, em Porto Velho (RO).
Deixando a modéstia de lado, vá lá.. Eu era muito bom naquilo. rsrs.
Certo dia um caminhão, munido de guincho hidráulico desembarcou àquela geringonça na porta da oficina do jornal O Guaporé, pelo lado da Rua José de Alencar.
“Depois, para evitar o assédio de curiosos, a cobriram com uma lona preta até que a parede do prédio fosse quebrada, um técnico em instalação elétrica industrial preparou toda “fiarada” e uns 12 homens conseguiram com muito esforço” botar a bicha” pra dentro.
Instalada no lugar devido ela ficou a li intocável, a espera do profissional que havia sido contrato em Manaus e que só chegou em Porto Velho após dois meses de espera sob a justificativa que estava cuidando de sua transferência para Porto Velho.
Nome do rapaz. José Teixeira. Chegou e foi logo nos dizendo que o nome da máquina era Linotype e o operador (ele) era Linotipista.
Observando toda confusão causada pelo funcionamento da máquina e expedição da sua primeira vieta de chumbo, fundida a partir de chumbo derretido a uma temperatura de 700 graus centígrados, decidi: Um dia ainda vou operar uma “bicha” dessa.
Zé Teixeira não facilitava nada para os interessados na profissão. Não dava explicações a ninguém e menos ainda, falava sobre o funcionamento técnico da maldita.
Afirmava claramente que “não iria criar cobra pra lhe morder”. Sendo ele o único linotipista da região, poderia barganhar o salário que quisesse. E podia mesmo! Era o melhor salário da empresa.
Para minha sorte ele não conhecia nada na cidade e gostava de “molhar a palavra”. Era fissurado numa farra... A “balada” que a moçada se refere hoje.
Eu, nascido e criado em Porto Velho, conhecia a fundo o mundo soçayte. O sub mundo. Todos os prostíbulos, jogatinas, bocas de fumo e tudo mais que pudesse ser usado para corromper ou desvirtuar o caráter de alguém.
Dados esses meus “conhecimentos”, passei a ser o principal amigo do Zé Teixeira. Era seu acompanhante oficial nas visitas cotidianas a todos os inferninhos que havia em Rondônia. Mão aberta quando de porre. Não fazia economias. Sóbrio, passava qualquer judeu para traz em termos da avareza.
E por essa promiscua amizade com o linopista Zé Teixeira, não tive dificuldade em aprender a operar a linotype. O medo porém inibiu minha determinação em ser um exímio linotipista.
É que o tipo usado na Linotype, em forma de pequenos retângulos de metal com aderência em uma das extremidades, servindo de forma para a letra correspondente, enganchava no carretel distribuidor com relativa facilidade.
Uma simples falha que fosse nos trilhos de distribuição, implicariam em entrar na fundição da caldeira em desalhinho. O descompasso entre a fundição e a forma composta, pelas plaquetas de metal, causavam graves acidentes com jatos de chumbo em forma liquida. Em contado com a pele, do operador ou de quem estivesse próximo, podeiam provocar queimaduras de primeiroa terceiro graus.
A "cafetina" logo teve meu repúdio. Decidir que não queria ser linotipista. Mas a falta de mão de obra me levava sempre a trabalhar na linotype e ficando exposto a uma “chumbada”. Ou seja, receber queimaduras com chumbo derretido
Passei - junto com demais colegas de trabalho - muitas noites em claro, devido as falhas técnicas, constantes e diversificadas apresentadas pelas linotypes.
Quando as "cafetinas" finalmente foram aposentadas e deram lugar as “Compouses” - inauguradas no Acre pelo o Jornal O Rio Branco na metade da década de 80 - foi um grande alívio para todos.
Se na época das linotypes, houvesse o mesmo avanço tecnológico dos computadores - que fazem o aparelho se tornar obsoleto a cada 30 dias -, diria que a linotype se aposentou no ano de 350 antes de cristo.
Com tantas afinidades que tenho e que tive com essa velha “cafetina” que me explorou durante anos de trabalho, para enriquecer patrões, diria que realmente sou um dinossauro da imprensa.
Motivo mais que justificado para merecer o respeito de uns “mauricinhos” de narizes empinados, que se imaginam entendidos de imprensa.

2 comentários:

Alexandre Lima disse...

Nonatinho e querido amigo de velhas datas - nem tanto quanto você -, posso dizer que tive o previlégio de conhecer essa tua velha amiga "cafetina" no final da década de 80 quando ingressei nessa "famigerada" profissão.

Naquele antigo prédio do jornal O Rio Branco, precisamente nos fundos sob um calor infernal.

Anônimo disse...

Olá, grande "Otanon"


Meu nome é "Mauricinho", mas pode me chamar de "Maurice" (se possível com a pronúncia correta em francês: "Morrice").
Acompanhei seu texto sobre essas máquinas jurássicas e lembrei o início da década de 70, no velho Serda, na esquina da Ladeira da Maternidade, onde iniciei essa vida de subalterno remunerado.
Eram três linotypes de segunda (ou quarta) mão, importadas da então Alemanha Ocidental (o muro de Berlim só viria abaixo 15 anos depois).
O trio de operários era composto pelo Nilder (im memoriam), o Pampolha e o Dedé, que esbanjavam invejável destreza naquele teclado de ferro encardido. Alguns estagiários e candidatos a substitutos deles sucumbiram depois da primeira prova de fogo (ou melhor, de chumbo!) e "vazaram" para nunca mais voltar.
O Nilder ainda tentou me encaixar no grupo dos linotipistas, mas eu preferi os quadratins, a galé e o componedor.
Foi com o ofício de tipógrafo que aprendi a multiplicar por 12 e hoje tenho razoável facilidade com números.
Bom, sem delongas, entrei na sessão de comentários para ratificar minha promessa de que iria ser seu leitor a partir de então. Muito bom o texto, afinal, todo nós, especialmente os de cabelos brancos, temos certa predileção por tudo que cheire a nostalgia.

Um abraço

Beneilton Damasceno, servidor da floresta