terça-feira, 1 de julho de 2008

IMPRENSA DE ALGEMAS

O LADO OBSCURO DA MIDIA

EM FAVOR DO CAPITALISMO

Era o ano de 2002. Eu “cobria” matérias gerais como repórter do Jornal A Gazeta. Uma ligação chega à redação informando de uma reunião entre produtores rurais e a direção do SINPASA (salvo engano, era Sindicato de Pequenos Agricultores Rurais e Assalariados do Acre) na sede da associação, localizada Rua Novo Oriente no bairro Cidade Nova.

Na hora combinada estava lá, eu e a fotografa Rose Peres. Sentados em cadeiras dispostas em círculos em um grande salão, cerca de 30 homens e mulheres relatavam à direção do sindicato, que estavam sendo ameaçados de morte se não saíssem das terras onde viviam, há mais de 30 anos.

Muitos dos presentes haviam nascido, crescido, casado e já tinham filhos sem sair do local onde moravam. Expulsos, não teriam para onde ir nem alternativa de sobrevivência. O algoz daquelas famílias era um cidadão conhecido por Mozart, dono ou gerente da distribuidora de bebidas Sorriso, responsável pela distribuição da cerveja mais consumida no Acre. Daí seu respeitável poderio econômico. Por ele, eram reclamadas às terras onde viviam às famílias reunidas no SINPASA.

Além dos trabalhadores a seu soldo, estava a apontar armas aos trabalhadores, um fiscal do IBAMA, conhecido por “passarinho” ou “periquito”, coisa assim, licenciado enquanto era investigado por corrupção. Esse fiscal se aproveitava do cargo para ameaçar as famílias.

Para as vítimas, as chances eram mínimas। O inimigo era “poderoso”. Denunciar o caso a imprensa era a única solução. Nossa presença a reunião, era "garantia" de novo rumo. Relatos, testemunhos e muita esperança no nosso trabalho.

Afinal, bradava o presidente do sindicato. “Gente! o Jornal A GAZETA está aqui. Tenham Fé que nem tudo está perdido”. Ele tinha, em parte, razão.

Éramos o maior, mais lido e de maior credibilidade na região. Tudo no superlativo. Eté nosso próprio ego.

Para qualquer jornalista, esse tipo de reportagem é que alimenta o sentimento de fazer mos justiça, quando a justiça falhou। Corrigir distorções e repor a verdade ao seu devido lugar। Afinal, somos ou não o “Quarto Poder”??

E foi com esse pensamento que saímos em campo para fazermos nossa reportagem. Cumprimos todas as determinações do nosso código de ética. Certo ou errado, todos teriam o mesmo espaço. Procuramos o IBAMA e descobrimos a lado criminoso do fiscal corrupto. Pegamos depoimentos de seus superiores e saímos de lá com a certeza que o assunto era mais um agravante ao processo administrativo que o investigava.

Depois, fomos a revendedora de bebidas falar com o senhor Mozart e, de sua secretária, recebemos a informação que ele só poderia nos atender ás 16hs.

Voltamos à redação e preparei a reportagem. Ficou em aberto apenas a parte correspondente a versão do Mozart. Ficamos na redação “fazendo hora” e às 16hs em ponto estavamos, eu e a fotografa Rose Peres, aguardando sermos recebidos pelo empresário. Ele retardou o que pode para nos atender.

Quando finalmente decidiu atender foi de uma arrogância e prepotência fora do comum. Ignorou a mão estendida em cumprimento e de cara, me disse que o assunto não era importante para ser publicado. E perguntou: “Qual o interesse que você tem em publicar essa reportagem?”.

O cheiro de suborno impregnou no ar. Mas acostumado a lidar com toda espécie de bandidos, nem dei importância a sua cara feia. Respondi que estava ali para ouvir a versão dele na história. Que meu interesse era jornalístico e que só meu editor, estava apto a dizer se o assunto era ou não importante.

Esticado o “cabo de guerra”, ele passou a me mostrar documentos de compra das terras reclamadas sem ter condições de comprovar à autenticidade de propriedade do vendedor. Os documentos tinham reconhecimento cartorário mais não havia meios de saber sua autenticidade. Não naquele momento. E foi por essa linha, que redigimos a fala do senhor Mozart.

Para sorte do empresário e azar do jornalista e das vitimas, o editor de A GAZETA, era o mau caráter lusitano naturalizado brasileiro Jaime Moreira, de más lembranças.

Um ser de conhecimentos jornalístico privilegiado, mas inescrupuloso ao ponto de envolver a dignidade da própria família, para atingir os inimigos do patrão. Para ele, o cargo de editor e o salário, estavam à cima de Deus, da Pátria e da Família.

Qualquer dia desse conto essa estória escabrosa aqui para os leitores do blog. O patrão era o dono do Jornal e o inimigo do patrão, era o governador do Acre.

E assim, por volta de 18h, quando finalmente encerrei a jornada de trabalho, iniciado às 7:00hs da manhã, Jaime Moreira chama à atenção da redação. Quer saber quem fez a reportagem sobre o empresário Mozart.

Respondi que era eu. E relatei a forma grosseira e desrespeitosa como nossa equipe havia sido tratada pelo arrogante empresário.

E o editor mau caráter respondeu:

- Pode rasgar o texto e jogar no lixo. Não vai ser publicada nenhuma linha sobre o assunto.

Não houve argumento$ capa$ de convencer o Jaime, em não acreditar na$ alegaçõe$ do empre$ário.

E assim foi para o ralo nosso dia de trabalho. E junto, a esperança das famílias expulsas de suas terras, pelo empresário arrogante.

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