quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ameaçados de despejo

Lar dos Vicentinos quer DNA
para identificar verdadeiro pai

Velhos indigentes e carentes, pelo menos de afeto e atenção da família, têm ou tinham o Lar dos Vicentinos (Entidade Filantrópica São Vicente de Paula), como única referência de amparo e um cantinho para viver o restante de suas vidas.
Raimunda Otília, coração bondoso que deve está recebendo do todo poderoso, os bons frutos pelo que plantou na terra durante cerca de 40 anos, era para eles a freira franciscana, mãe, pai, juiz o delegado, a filha querida. Enfim, era tudo que tinham.
Em vida, dona Otília me disse em diversas ocasiões que se tivesse apoio do governo poderia fazer bem mais pelos seus velinhos.
Reclamava, coberta de razão, que ficava sem luz elétrica após perverso corte de energia por parte da Eletroacre - por falta de pagamento - e muitas vezes, o corpo dos que pereciam era “velado” às escuras tendo apenas ela, por testemunha.
Quando havia necessidade de levar um doente ao Pronto Socorro, era um “Deus nos acuda” por falta de braços fortes para embarcar e transporte para levar os doentes. "Havia dias que não tinha o que comer".
Esperançosa nos contou certa feita: “Desde que o Poder Judiciário trocou a punição com entrega de sacolões de alimentos como pena alternativa em favor do Lar dos Vicentinos, parte das dificuldades foram sanadas”. No entanto faltavam ainda remédios, roupas de cama, cadeiras de rodas, camas... enfim. A lista de dificuldades nunca terminava.
A presença do Estado era só para despejar nas costas da veneranda senhora Otília, marginais cadeirantes atingidos por bala, que não tinham condições de serem “cuidados” no presídio.
A princípio esses “internos” eram deixados lá como medida emergencial e provisória. Só que nunca mais saiam.
Mágoas, dona Otília tinha dos parentes dos velhos abandonados. Religiosamente apareciam a cada fim de mês, pegar o dinheiro da aposentadoria dos velhos que haviam abandonado. “Nada sobrava para o sustento dos velinhos”, dizia.
Dona Otilia nunca cogitou a fechamento do Lar dos Vicentinos por quaisquer motivos. E olhem que motivos para isso, nunca faltaram.
Até que o Governo do Estado decidiu intervir. Ampliou a estrutura física do Lar construindo uma ala feminina e colocou à disposição da "casa" alguns servidores públicos, entre eles um geriatra, nutricionista, enfermeiro..
De quebra, tirou a direção das mãos de dona Otilia e colocou um administrador. Otilia deve ter morrido, além do fator idade e saúde, de depressão.
Agora, depois que o Lar foi “oficializado”, a Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA), diz que o Lar não pode receber Alvará de Funcionamento porque necessita de adequações mínimas para acomodar os velhos. E não tem condições mesmo! Nunca teve.
O fato é que sem o Lar, o destino dos velhos é dormir em bancos de praça ou embaixo de pontes. Perdem a pouca dignidade que ainda têm.
O "bom", da ameaça de intervenção da ANVISA: Retirar o tapete que encobria a hipocrisia. Alertar a sociedade para um problema que existem há décadas, mais todos fingem não vê e, despertar na classe política, a necessidade de aparecer como tutor de uma causa que descaradamente, querem nos fazer acreditar, desconheciam. Quanta falta de vergonha na cara.
Lembrando porém, que a responsabilidade pelos idosos é, em princípio, da própria família. Na ausencia desta, do Estado e por fim, da própria sociedade onde estamos todos incluídos.

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